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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013



MEDOS


Passados dois anos de minha primeira internação, estava eu ali novamente diante de mais um quadro de extrema depressão, sem qualquer interesse em dar continuidade ao vazio ou a esse sentimento que se tornara minha vida.

Foi em maio de 2007, numa segunda-feira, após o “Dia das Mães”- Quem me viu no restaurante no dia anterior, junto à minha mãe, meus filhos e todos os familiares não acreditaria jamais que eu poderia mudar tão e descompassadamente de comportamento.

Só lembro que olhei fixamente para a janela do meu quarto, tudo parecia não fazer sentido algum...

Algumas horas depois eu estava diante de uma psicóloga ou psiquiatra, não sei bem, na mesma Casa de Saúde.

Após todo o procedimento de praxe eu iria novamente ficar reclusa, longe dos meus.

A entrada numa Clínica dessas é a meu ver, a parte mais dolorosa de um tratamento, pois ela é uma das saídas que se dispõe quando ocorre um episódio de surto aliado a uma forte recorrência de profunda depressão, que era o meu caso.

É quando você se vê totalmente sozinha dentro daquele ambiente aonde os outros pacientes olham você com desconfiança...

Você é levado por dois enfermeiros(as) até o apartamento de “Triagem” (é o lugar onde você fica no primeiro dia). Lá a enfermeira manda que você tire toda a sua roupa. É muito constrangedor, uma sensação de invasão ao seu corpo e ao ser humano.

Seus objetos pessoais são “guardados”; só é permitido o acesso (no meu caso) à higiene pessoal, exceto desodorante e perfume que depois de tomar banho você vai até a enfermagem para fazer uso na presença de funcionários e outros doentes.

Somente após 24 horas você pode falar com seus familiares, por telefone, e 48 horas depois você pode receber visitas.

As primeiras 24 horas são as mais longas de toda uma vida. Tudo é tão estranho e por mais que haja profissionais competentes e carinhosos, você tem a nítida sensação que não é mais você que pensa e rege o seu destino e sim aquelas pessoas que estão ali dizendo o que você deve ou não pode fazer. E como são estranhas todas aquelas pessoas...

Meu irmão mais velho (já falecido) passou por várias clínicas de tratamento de dependência química. Ele nos falava sempre dessas passagens e, de uma maneira irônica, embora afetuosa, se referia aos pacientes como “malucos”.

Eu hoje vejo que olhar de meu irmão não era preconceituoso como eu pensava na época: e quem está ali, seja qual for o seu problema, tem um universo totalmente diferente e de muitos MEDOS.