musica

domingo, 19 de junho de 2011

Como compreender um bipolar

(Por José Luiz de Mello)

Quem sofre do “Transtorno Bipolar do Humor”, vive em um mundo a parte; o mundo de um bipolar não tem as mesmas características do nosso. É um mundo muito mais intenso, um mundo onde tudo o que existe é incomensurável.

No mundo bipolar o sol brilha mais, os dias são mais claros e longos, os bens materiais têm maior importância do que merecem e uma simples palavra pode ser arrasadora ou profundamente confortante.

Os sentimentos não cabem no limite do corpo muitas das vezes extravasando das formas mais variadas e incompreensíveis possíveis.

No mundo bipolar as noites são mais escuras, de um céu nublado sem estrelas nem lua e o silêncio conforta mais do que a mais linda das melodias ou todas as palavras do mundo.

Para um bipolar, fatos que são plenamente compreensíveis e aceitáveis como a morte de um parente mais idoso ou que sofre de uma doença incurável, fatos estes que apesar de difíceis de serem aceitos, são compreensíveis e remediáveis, assumem grandes proporções e como um pêndulo dentro do cérebro e do coração, vão e voltam, batendo de um lado e de outro, trazendo à tona esse terrível acontecimento, até o fim de suas vidas.

Para um bipolar uma vida rotineira e sem altos e baixos é um conto de fadas, para eles essa vida nunca vai existir. Para um bipolar o momento seguinte é sempre uma incógnita e ao mesmo instante que estão felizes, sorridentes, cheios de planos, sentem o peito cortado por uma tristeza profunda, uma tristeza que surge do fundo da alma e sem pedir licença, toma conta de todo o corpo e, então o que antes era um dia ensolarado de uma linda manhã, transforma-se em questão de segundos em um tenebroso dia de tempestade, sem sol, com o céu escuro e frio e o que antes eram planos de sair, ir a um cinema, um teatro, um shopping, se transforma agora em recolhimento: fechar todas as cortinas, apagar todas as luzes e ficar sozinho. Se recolher à clausura, debaixo de um cobertor, sem querer ouvir nem um som sequer.

Mas o que fazer se nem dormir direito se consegue? O que fazer se o mundo lá fora bate à sua porta? Se os amigos insistem em ligar? Isso são infortúnios que nem todos saberão administrar.

Por outro lado, quem pode afirmar que um mundo sem extremos é lindo?
Que um mundo só de alegrias ou só de tristezas é um mundo maravilhoso para se viver?

Não é não! É entediante!

Minha esposa é bipolar e vivo com elas há mais de 20 anos. Não sou psicólogo, psiquiatra, não me formei em nada disso, mas podem acreditar, sei do que estou falando:

- a vida ao lado de um bipolar pode ser maravilhosa - cheias de altos e baixos sim - mas nem por isso deixa de ser maravilhosa.

Se você tem uma mulher ou um marido que um dia sorri pra você, te cobre de beijos e em no outro chora e se recolhe, não querendo sair de casa e se afunda em medicamentos, não faça disso um poço sem fundo, viva a vida do seu jeito e deixa que ela(e) viva a dela(e) da melhor maneira possível.

Não tente moldar sua(seu) companheira(o) do seu jeito, respeite os sentimentos de quem compartilha com você toda sua intimidade, compreenda que um bipolar não consegue esconder quando está triste, assim como nós que conseguimos esboçar um falso sorriso, mesmo nas horas mais amargas.

Não julgue uma pessoa que não pode esconder com uma lágrima quando está eufórica, transbordando alegria por todos os poros.

Essa compreensão fará muito bem a quem vive a seu lado e tenha certeza, você vai descobrir que fará um bem muito maior a você mesmo(a).
(para Maria Tereza)