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sábado, 28 de maio de 2011

Entrevista sobre Bipolaridade
(Dr. Marco Antônio Brasil, Psiquiatra)

O transtorno bipolar é uma doença psiquiátrica grave e que acomete pessoas que sofrem de períodos de depressão e períodos de mania.

Mania que falamos em psiquiatria não é aquela mania de colecionar, mania de fazer alguma coisa, são períodos de uma euforia intensa imotivada. São pessoas que entram em uma vaze de grande atividade – querendo fazer mil planos, não dorme -, é uma atividade exagerada e exacerbada e muitas vezes podem ser acompanhadas também de grande irritação e a partir daí, podem ter também períodos depressivos em que a pessoa perde a vontade de viver, passa por uma profunda tristeza, uma tristeza que tem uma característica que a diferencia da tristeza normal, é uma tristeza imotivada e não há uma razão pela qual a pessoa possa explicar o porquê de estar tão triste.

Então na realidade o Transtorno Bipolar é uma doença que tem episódios chamados de fases. São fazes depressivas intercaladas ou muitas vezes sucedidas por períodos chamados de fases maníacas que como já foi dito são essas fazes de grandes agitação e euforia.

Até que ponto isso pode ser considerado grave?

Essa gravidade pode chegar até a uma interrupção total da capacidade de relacionamento social e laborativa exigindo às vezes a buscar, nas fazes mais graves, até uma internação psiquiátrica.

Como identificar que uma pessoa está sofrendo do transtorno bipolar e até diferenciá-la de uma portadora de outras doenças como a Síndrome do Pânico ou até a própria Depressão?

Basicamente o transtorno bipolar é o transtorno do humor, ou seja, o que está basicamente comprometido é a afetividade da pessoa – ela tem uma profunda tristeza em suas fases depressivas, imotivada – que impede em muitas vezes que a pessoa faça sequer suas mínimas atividades, cuidados com a higiene e alimentação nas fases mais graves e nas fazes maníacas, nas fazes de grande agitação, a pessoa pode ficar extremamente agitada, sem dormir, inconveniente, sem limites, perdendo todas as normas sociais, trazendo um grande problema para o paciente e seus familiares.

Como funciona o tratamento?

O tratamento do Transtorno Bipolar é feito com psicofármacos chamados de estabilizadores do humor que visa que essas pessoas tenham essas fases depressivas e maníacas, essas fazes de excitação e em algumas vezes torna-se necessário associar, nos casos mais graves os chamados neurolépticos, que visam conter a agitação do paciente e nos casos mais graves ainda de depressão, o uso por curtos períodos dos antidepressivos.

Quais os tipos de Transtorno Bipolar?

O que existem são variações de intensidade, existem transtornos bipolares onde você tem um quadro com dias seguidos de uma pequena excitação ou quadros em que você tem o Transtorno Depressivo associado, sucedido ou vindo após esse períodos de fazes graves de excitação, então nós temos o Transtorno Maníaco chamado de Tipo I em que você tem as duas fazes em grande intensidade – a fase depressiva e a fase maníaca – e o Tipo II que é quando você tem o quadro depressivo seguido ou depois de algum tempo surgindo a fase maníaca de menor intensidade conhecida como Fase Hipomaníaca, uma fase que não é plenamente maníaca.

Porque o paciente deve buscar a ajuda de um profissional e o que pode ocorrer caso ele não tome essa providência?

Em primeiro lugar, um paciente que sofre do Transtorno Bipolar, o seu nível de sofrimento já é bastante para ele ter a necessidade de procurar ajuda. Muitas vezes o paciente com Transtorno Bipolar entra em um quadro depressivo e acha que não tem o que fazer mais, que nada mais pode ser feito, então cabe a família procurar ajuda e levar esse paciente para ser cuidado e em outras vezes, o paciente na fase maníaca, sobretudo no início dessa fase maníaca ele se sente muito bem, fica eufórico, agitado e acha que não tem motivos para procurar por ajuda, por isso fica difícil nessa fase inicial a procura por tratamento, mas na medida que a doença vai se agravando, seja o quadro depressivo ou o maníaco, as limitações, os comprometimentos, o nível social, a incapacitação geral, vai aparecendo de tal forma que o paciente tem de qualquer maneira ser levado a tratamento e caso ele não seja levado o que pode ocorrer é que ele passe a ter episódios depressivos sucessivos, porque o Transtorno Bipolar é uma doença recorrente, ou seja, ela aparece em fases. Tem um período onde a pessoa está bem, mas isso não implica que ela vá continuar sempre bem, ela pode vir após um episódio depressivo vir a ter outros episódios depressivos ou outras fases maníacas.

A família pode e deve acompanhar o tratamento?
 Não só deve como é fundamental porque o Transtorno Bipolar é uma doença que não só compromete o paciente, mas toda a estrutura familiar. O paciente em um quadro depressivo deixa de trabalhar, deixa de ter contatos sociais e isso tem repercussão dentro da estrutura familiar e da mesma forma, em suas fases maníacas o paciente fica completamente eufórico e inadequado, também repercutindo no ambiente familiar.

O Transtorno Bipolar tem cura e a pessoa pode levar uma vida normal?

Não, basicamente dentro da medicina essas doenças não são curáveis, as que são curáveis são os quadros infecciosos. Você cura uma pneumonia, mas a maioria dos casos em medicina, não só em psiquiatria, mas em toda a medicina, é que nós controlamos, nós evitamos que essas pessoas tenham novas crises, que mantenham sua pressão arterial controlada, que tenham seu nível de glicose mantidos dentro das taxas normais e da mesma forma na psiquiatria, utilizando-se os estabilizadores do humor, conseguimos manter o paciente protegido de novos episódios sejam eles depressivos ou maníacos.

Dá para evitar o Transtorno Bipolar?

Em grande parte dos paciente é possível sim mantê-lo estável e mesmo aquele paciente que possa vir a ter algum episódio após o tratamento desse episódio com o uso da medicação, não terá esse episódio com a mesma intensidade anterior se ele não tivesse se tratado.