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terça-feira, 20 de setembro de 2011

MANTEIGA DERRETIDA & BULLYING

Durante todo meu período pré-escolar e primário (como era denominado antigamente) passei praticamente sozinha dentro da escola, ou seja, não tinha colegas que brincassem ou falassem comigo porque, simplesmente, não conseguia abrir a boca, a não ser quando chamada pela professora.

Era uma época bem diferente (começo dos anos sessenta) e os profissionais não tinham uma formação pedagógica como a de hoje; que se interessam e interagem com os pais para detectar quaisquer tipos de problemas com as crianças.

Então vivi praticamente sete anos de minha vida dentro da escola, com um ótimo desempenho curricular e didático, mas sem nenhuma atividade recreativa da qual participasse com prazer e efetivamente.

Foram anos de muito sofrimento para mim, principalmente quando chegava a hora do recreio que eu comia meu lanhe e permanecia solitária num cantinho qualquer parada e longe, principalmente dos meninos “que debochavam de mim por eu ser assim...

Eu era uma vítima do “BULLYING” e com certeza na minha escola, mesmo sendo na Zona Sul do Rio de Janeiro, nunca ninguém havia comentado algo sobre o assunto.

Mas, mesmo assim, com todos esses problemas eu gostava da escola, queria aprender e adorava estudar. Era uma excelente aluna. A melhor da classe. Mas acho que talvez eu estudasse mais ainda para aparecer e sobressair de alguma forma, uma vez que era tão ignorada pelos colegas; a não ser aqueles mais espertinhos que se aproximavam de mim em busca de proveito, uma informação, uma cola.

Sempre que penso nisso fico muito triste e abalada. Meu coração dói e fico muito, muito angustiada. Talvez porque, já naquele tempo, achasse que os meus pais deveriam perceber meu problema. Mas eram tempos difíceis pra eles também...

E assim foi passando o meu primário: professoras gentis, indiferentes, doces, sérias ou sem nenhum compromisso. Até que no último ano, quando já me preparava para os exames do Ginásio, veio a Professora Maria Lúcia, uma senhora mais experiente, que mesmo tendo me deixado constrangida ao me chamar de “Manteiga Derretida”; ensinou-me que na vida, nós precisamos aprender a nos defender e que eu tinha que estar preparada para uma nova etapa, onde teria que ser esperta, menos chorona e fazer dos sentimentos “uma espécie de casca” para me proteger daqueles que julgavam-se melhores e capazes de me atropelar...